Orgânicos e Saúde. Você ainda tem alguma dúvida? – Parte I
Uma pesquisa da Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA), foi desenvolvida nos estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Pernambuco, no período de junho de 2001 a junho de 2002.. O estudo, em sua primeira fase, analisou 1295 amostras de vegetais coletados em supermercados das capitais. O relatório constata que 81,2% das amostras dos vegetais pesquisadas exibiam resíduos de agrotóxicos. Desse total, 233, ou 22,17%, apresentaram irregularidade porque os percentuais de resíduos ultrapassavam os limites máximos permitidos pela legislação. Entre as 233 amostras irregulares, 74 continham resíduos de agrotóxicos não autorizados para as respectivas culturas, devido ao seu alto grau de toxidade - como o Dicofol e os Ditiocarbamatos. Do total, 94 estavam acima do LMR (Limite Máximo de Resíduo) e 65 apresentavam irregularidade.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a contaminação por agrotóxicos atinge um milhão de pessoas, três milhões de toneladas de agrotóxicos são utilizadas em todo o mundo a cada ano e o Brasil consome 5% desses produtos, que atingem 500 milhões de pessoas, expostas aos seus riscos, e que causam um milhão de intoxicações não-intencionais ao ano. Os agrotóxicos causam 700 mil dermatoses, 37 mil casos de câncer e 25 mil casos de seqüelas neurológicas a cada ano. Existem em todo o mundo, 600 produtos químicos considerados agrotóxicos, com milhares de formulações diferentes e, destes, 200 deixam resíduos em alimentos.
O uso de fertilizantes, no mundo, quintuplicou nos últimos 30 anos. No Brasil, segundo dados do Ministério da Agricultura, foram comercializados US$ 1,6 milhões em agrotóxicos, em 1995. Quatro anos depois, esse valor chegou a US$ 2,5 milhões. Comparando-se dados obtidos em amostras de sangue de brasileiros e de ingleses, encontrou-se que os brasileiros possuem 3.9000% a mais de veneno no sangue do que os ingleses.
Estudos da Universidade de Pelotas, da Universidade de Santa Cruz do Sul, da Universidade de Campinas (UNICAMP) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro demonstram que os agrotóxicos utilizados indiscriminadamente na cultura do tabaco causam intoxicações e distúrbios neurocomportamentais, entre eles, a depressão, que podem levar até o suicídio nos membros das unidades familiares de produção.
Segundo estudo realizado na UFSC em 1998 os agrotóxicos são os agentes tóxicos que mais matam no Estado de Santa Catarina, correspondendo ao maior número de óbitos registrados no Centro de Informações Toxicológicas do Hospital da Universidade Federal de Santa Catarina. A cada mês, são cerca de 30 a 40 casos de intoxicações. A média de casos de intoxicações por agentes químicos variados chega, hoje, a 500 casos registrados anualmente, entre os quais uma média de quinze vão a óbito. Os inseticidas são a classe de uso mais envolvida no grupo das intoxicações não intencionais, seguidos pelos herbicidas.
Os efeitos sobre a saúde humana associados à ingestão de pesticidas, incluem câncer, desordens do sistema nervoso, defeitos congênitos e esterilidade masculina. Sua ação neurotóxica se dá pela inibição de uma enzima que atua sobre um neurotrasmissor. O acúmulo deste neurotransmissor no organismo leva a quadros variados de neurotoxicidade, paralisia, dormência, polineuropatias periféricas além de uma forma de anemia que pode levar a casos de leucemia e linfomas.