Orgânicos e Saúde. Você ainda tem alguma dúvida? – Parte II
Uma classe de agrotóxicos, os piretróides, está associada a cânceres linfohematopoiéticos e alergias. Os piretróides são utilizados amplamente como inseticidas na forma de pastilhas acionadas através de um interruptor elétrico.
Os herbicidas têm dioxina, substância altamente carcinogênica que foi utilizada na forma de agente laranja na guerra do Vietnã. Muitos combatentes americanos e vietnamitas, e também seus descendentes sofreram as conseqüências da sua ação carcinogênica.
Estudo realizado em 2003 e publicado no periódico Epídemiology mostra associação entre o uso de herbicidas e fungicidas e infertilidade em mulheres. Na população desse estudo, mulheres que eram estéreis mostravam 27 vezes maior probabilidade de ter tido contato com agrotóxicos nos dois anos anteriores à tentativa de concepção do que mulheres que eram férteis. Outros fatores como o fumo, ganho de peso e consumo de bebidas alcoólicas também foram associados com a infertilidade nesse estudo. Esses dados sugerem que as mulheres que desejam engravidar devem evitar contato direto com agrotóxicos durante pelo menos dois anos antes da tentativa de concepção.
Pesquisa realizada em 2006 e publicada nos Annals of Neurology apresenta as mais fortes evidências, até hoje pesquisadas, do vínculo entre exposição a pesticidas e o mal de Parkinson. O estudo envolveu mais de 143.000 homens e mulheres e concluiu que pessoas expostas a pesticidas têm probabilidade 70% maior de desenvolver o mal de Parkinson do que aquelas que não entram em contato com tais substâncias químicas. Os resultados sugerem que qualquer exposição a pesticidas, seja por atividade profissional ou não, aumenta o risco de uma pessoa desenvolver a doença.
Estudos realizados na Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho e na Universidade de Viçosa avaliaram comparativamente cenouras e maracujás de origem biodinâmica e convencional e atestaram que no primeiro sistema de produção ocorreu um aumento na produtividade e maior durabilidade dos alimentos pesquisados. Outros estudos encontraram maçãs orgânicas mais firmes, tomates orgânicos com menor teor de acidez e trigo de origem biodinâmica, com melhor qualidade de panificação.
Sabe-se que plantas sem pesticidas produzem mais vitaminas e fitoquímicos para se proteger de pestes e condições adversas. Em pesquisa feita com framboesas, morangos e milho de origem orgânica foi encontrado um acréscimo de 20 a 58% de flavonóides nesses alimentos. Os flavonóides são fitoquímicos de ação antioxidante com faculdades farmacológicas anticancerígenas e inibidoras de atividade de agregação plaquetária. Outro estudo realizado em 1999 aponta maçãs orgânicas com um conteúdo maior de flavonóides. No que diz respeito ao conteúdo de vitaminas, um estudo apresentado na American Chemical Society, em 2002, mostra que laranjas de origem orgânica contêm até mais de 30% de vitamina C que as de origem convencional.
O ácido linoleico conjugado (ALC), composto de comprovada ação anticancerígena, também foi fruto de pesquisa recente. Um estudo americano publicado na revista The Stockman Grass Farmer mostra que a quantidade de ALC aumenta de 300 a 500% na carne e leite de animais criados em regime de pastagem livre. São animais não confinados e que não recebem aditivos complementares de ácido linoleico sintético na ração.
Previsões da Soil Association, associação de Agricultura Orgânica da Inglaterra, sinalizam que aproximadamente 1/3 dos bebês britânicos já estão crescendo com uma dieta à base de alimentos orgânicos
Pesquisa desenvolvida em Botucatu em 2000 constatou a presença de resíduos químicos acima do aceitável em 15% das 12 marcas de leite analisadas. O alto nível de piretróides, um tipo de carrapaticida utilizado no gado, aumenta a excitação das células nervosas podendo causar insônia, irritabilidade, dor de cabeça, fotofobia, tremores musculares. entre outros sintomas. As crianças sofrem mais com esses efeitos por serem as maiores consumidoras de leite.
O rBST ou somatrotopina recombinante de crescimento bovino é um hormônio transgênico artificial utilizado sob o nome comercial de Posilac e foi desenvolvido pela empresa Monsato. Foi criado através da combinação do DNA da vaca com o da bactéria Escherichia coli para que as vacas produzam mais leite. Esta foi uma das primeiras substâncias geneticamente modificadas aprovadas para consumo pelo FDA, em 1993. Acredita-se que seu consumo pode estar associado ao aumento dos índices de câncer de mama e de próstata, puberdade precoce e obesidade. Os estudos sobre a inocuidade de seu uso são contraditórios por isso o rBST continua proibido no Canadá, Japão, União Européia, Austrália, Nova Zelândia , entre outros, com a exceção de 19 países, na maioria não-industrializados, entre eles o Brasil.